Capítulo 13 - O Casamento

- Mãe! Com que roupa eu vou?

Já estávamos no chalé. Ao chegarmos, Sid colocou Pri delicadamente na cama, afagou o cabelo dela e rapidamente se despediu. Ela dormiu mais uns trinta minutos, o tempo necessário para que eu tomasse um bom banho.

- Aonde você acha que vamos?
- A um casamento. Sid falou que haverá um casamento e que fomos convidadas.
- Então você já sabe. E desde quando você gosta de ir a festas de casamento? Pensei que achasse uma grande chateação.
- Ah! Mãe! Mas se estamos aqui e fomos convidadas, temos que ir, não é? E com que roupa eu vou?
- Tá vendo? Se você não me pegasse de surpresa no aeroporto e a gente combinasse antes, eu colocava um vestido de festa na minha mala. Mas você só fez uma mochilinha cheia de shorts e camisetas.
- Mas mãe, eu tenho que ir arrumada. Vai estar todo mundo lá...
- Todo mundo?
- O Sid vai...
- Quanto interesse...
- Ah! Mãe!

Que encrenca. Arrumar um vestido de festa em uma hora para uma menina de 15 anos, numa cidade desconhecida e meio esquecida do mundo? E eu não havia visto nenhuma outra menina da idade dela por ali, para me dar uma dica. As outras senhoras estavam nas suas casas, certamente às voltas com seus afazeres de jantar.

- Vai tomar seu banho que eu vou dar um jeito.

Sem ideia de como dar esse jeito, fui até a casa grande a procura do Gui. “Ele há de dar um jeito!”

Encontrei-o sentado na cadeira de balanço da grande varanda dos fundos.

- Missão difícil, mas não impossível. Vamos falar com minha mãe.

Mais do que depressa, nos encaminhamos até a casa da Dona Leny.

- Oi, Bela! Que surpresa agradável! Vocês não vão à festa?
- Mãe, esse é o problema. A Priti não trouxe roupa e está toda chateada com o problema.
- Mas aquela menina tão bonita que vimos no vídeo? E você ainda não a trouxe aqui para me apresentar. Sabe, Bela, ele sempre foi assim. Só procura na hora das encrencas.
- Ih! Dona Leny, desculpe...
- Não há problema. Mas você também tem que se arrumar. Filho, peça para o Sid trazê-la até aqui. Quem faz roupas para bebês, não terá a menor dificuldade de vestir uma menina de quinze anos. Vão! E mandem a menina rapidinho, que a gente dá um jeito. 
 
Dito isso, voltamos para a casa, onde ela já estava sentada na varanda. Sid tentava consolá-la, mas os seus olhinhos verdes estavam embaçados de chateação.
 
- Sid, leve a Pri para a casa de sua avó. Meu bem - disse, dirigindo-se para Priti - abra um sorriso para poder dar inspiração a alguém que vai te vestir. A seguir, Sid, retorne e vá se arrumar também. Quando estivermos prontos, passaremos por lá a caminho do casamento.

Sid cumpriu a determinação e voltou em seguida me informando que ela já estava lá. Não me agradava muito deixá-la sozinha nessa situação, mas fiquei sem ação. Costumávamos nos divertir muito nas compras e ela gostava de discutir roupas comigo. E eu também pedia muito a opinião dela.

E agora? Ela me deixou na mão! Vou ter que me arrumar sozinha também! – pensei, rindo, para disfarçar o constrangimento que toda essa situação me deu. Que raio de mãe sou eu, que não pensei nessa situação? Sempre fiz tudo direitinho. De repente, escuto da varanda:

- Está com cara de encanada! - era Guido, que chegava com Sid, me vendo da janela. Eles já estavam prontos e alinhados. Ternos sóbrios, adequados para uma festa de casamento no interior. E eu ainda nem tinha terminado de me arrumar.
- Já, já saindo. Ainda não estou pronta!
- Ah! Mulheres! Sempre atrasadas! Minha mãe já me avisou que a Priti está pronta!
 
“Mas já? Como será que conseguiram?” - pensei. Arrumei-me rapidamente, enquanto eles esperavam na varanda. […] 
 
- Vamos de charrete?
- Não! Optei por outra condução.

Desta vez, a charrete foi dispensada, mas a condução era um calhambeque.

- Achei que você ia gostar de andar em um calhambeque. E imaginei, também, que sua filha nunca teria visto um e seria uma excelente brincadeira.
- Que engraçado. Pensei que a opção fosse um foguete! – disse, com alguma irreverência, não escondendo o espanto.
- Mas anda bem rápido se for necessário.

Descemos a ladeira naquele veículo muito interessante e quem dirigia era um senhor de seus 70 anos.

- O Sr. Holland é americano e é o dono do carro. Se dispôs a nos dar uma carona. Ele mora aqui em Ribeirão há 30 anos e coleciona carros antigos. Além disso é maestro e professor de música aposentado.

Chegamos na casa da Dona Leny e quem nos recebeu foi o avô!

- Bem vinda mais uma vez, Bela! Sua menina está pronta e vou chamá-la – disse, já nos servindo um licor de jabuticaba sem álcool.
- Olha, Bela. Fiz o que pude. Como a festa é italiana e eles são muito animados, aproveitei um modelo que já estava na minha cabeça e que nunca tinha experimentado em ninguém. Ela gostou!

Nem bem Dona Leny acabou de falar e minha filha já havia surgido pela escadaria da casa. Como estava linda! Os cabelos loiros e ondulados, brilhavam sobre os ombros. O vestido era uma atração a parte. Dona Leny havia acertado em cheio. Minha filha, sempre metida naqueles camisões largos, […] Meus olhos brilharam e embaçaram de tanta emoção. Na Índia, as meninas se vestiam muito bem, mas sempre para as festinhas entre elas mesmas. Ainda não tinha surgido uma oportunidade de usar um vestido para um casamento ou baile mais requintado.

- Então como estou? Gostaram?

Ouve-se um silêncio.

- Puxa! Vocês não gostaram? – falou Dona Leny sem disfarçar a piscadela de olho para Pri – Viu, mocinha, eu não falei que eles iam ficar parados sem saber o que dizer? Oh! Menino – disse para o neto - vem dar o braço, para a moça, antes que vocês se atrasem.
- E a senhora não vai?
- Que nada! Festa é coisa para vocês, jovens. Vou levar os bisnetos ao cinema para ver uns desenhos do tempo do avô deles. Cinema só existe em Ribeirão e eles não sabem quanto é bom comer pipoca vendo um filme. Essas coisas, hoje em dia, só existem aqui no interior.
Guido se aproxima e entrega uma caixinha para Priti.
- Para você. Ia ser da sua mãe, na formatura dela, mas acho que ela não vai se importar se eu der para você.
- Que lindo! - e disparou um beijo estalado no rosto do Guido que deixou-o sem graça - Olha só mãe!

Dentro da caixa, um cordão de ouro com um Murano que mostrava um buquê de flores coloridas presas em uma haste rubra, como se fosse uma árvore com o caule vermelho. O fundo era de um verde clarinho, cor de água, justo a cor dos olhos dela.

- Gui, que lindo! Não sei como agradecer. Só você mesmo para deixar Priti tão feliz!
- Sem delongas. Agora vamos nos distrair.

Nos despedimos rapidamente, entramos no calhambeque e fomos até a Igreja. Guido sempre foi muito objetivo.

A cerimônia foi rápida e simples. A igreja estava toda enfeitada de rosas cor de chá e a noiva vestia um traje clássico, branco. Deveria ter mais ou menos uns vinte anos, assim como o noivo e eles estavam muito felizes. Igreja repleta de amigos e parentes. Tiveram tudo o que tinham direito, até o arroz. Priti estava radiante, desfilando com seu vestido novo ao lado de Sid, que também fazia seu sucesso com as garotas da cidade, mas não largava da minha filha. De lá fomos até o clube, onde a festa já estava começando e cheia de animação.

- Pensei que o clube estivesse desativado, quando passei por aqui na chegada.
- E andou desativado por um tempo. Mas esse aqui é o salão menor onde será servido o jantar. Vamos para o salão das danças e depois a gente volta.

Salão das danças? Aonde caberia esse salão, se o clube se resumia a uma quadra de futebol de salão?

- Por aqui – ele disse.

Entramos numa sala, que mais parecia um vestiário de futebol, e ele se dirigiu a um armário. Aberta a porta, outro elevador.

- É lá em cima!

Eu ainda não me acostumara a essa tecnologia atrás dos armários. Subimos um andar e a porta se abriu para um salão imenso, decorado como uma antiga cantina italiana e onde realmente a festa acontecia ao som de músicas italianas que marcaram época.

- Até que enfim vocês chegaram!

Fomos abordados por uma moça muito bonita, de pele clara, cabelos castanhos e lisos e que tinha um andar tão suave que parecia que flutuava, ao invés de caminhar. O corpo, bem delineado, sugeria que fazia ginástica todo dia. Um olhar esperto, brilhante e penetrante, ela parecia uma garotinha num corpo de mulher.

- Ah! Rafinha! É que viemos com o Sr. Holland!
- Ele é uma gracinha... mas muito lento para dirigir. E você não me apresenta suas convidadas?
- Essa é Bela, de quem te falei e essa é a Pri... digo, aquela é a Priti, que está ali dançando com o Sid.
- Prazer! E você é a Rafaela, professora de educação física.
- Pode chamar de Rafa - disparou - Pelo visto você já falou a meu respeito - disse, agora dirigindo-se para Guido.
- Com certeza, você é pessoa muito querida para mim.
- Sempre gentil. Vamos, Bela. Você gosta de vinho? Esse aqui é da Itália, pois a festa é italiana, e não tem álcool, mas o gosto é o mesmo.

Era a Rafa. Bonita, esperta e objetiva. E ela tinha o Dom. Mas o que ele considerava o Dom?
 
Eu sou doc

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