Capítulo 12 - Os bebês

Eu realmente estava feliz! Foi divertido fazer a cesta do lanche, principalmente contando com o auxílio de algumas crianças que brincavam na casa. Elas viram que eu não sabia onde encontrar nada e morriam de rir quando eu não entendia o que elas falavam. Também, fui receber ajuda de 5 chineses que deveriam ter 5 ou 6 anos! Nem fazendo força eu entenderia os dialetos. Só que eles entendiam o que eu falava. Que experiência fantástica!

Cesta pronta, fui ao encontro de Guido sempre acompanhada por meus ajudantes. Pegamos a charrete e fomos em direção ao campo; as crianças deram “tchau” no jeitinho alegre dos chineses. Já era quase meio dia e, quando chegamos, os bebês já tinham sido recolhidos há muito tempo. Encontramos a Priti e o Sid, suados em bicas, jogando peteca.

- Isso eu nunca soube jogar direito.
- E eu nunca soube que ela sabia jogar.
- As crianças sabem tudo...
- É que a criação dela foi muito dentro de casa. Sabe tudo de computadores e máquinas. Mas peteca, é uma surpresa!
- Mãeeeeeeeeee! Aprendi tudo. Como preparar o peito durante a gravidez, como fazer ginástica pra poder ter filho, como carregar os bebês. As africanas nem fraldas usam! Elas sabem a hora que os bebês tem alguma necessidade e evitam as sujeiras.
- E como você conseguiu aprender isso tudo?
- Sid foi traduzindo os idiomas mais difíceis... e elas riam de tudo. Foi o máximo!
- A experiência entre os povos ajuda a trazer de volta os instintos. E o maior instinto sempre foi a sobrevivência. Os povos antigos, que não tinham tecnologia, sobreviveram e nós também sobreviveremos, porém temos que diminuir o sofrimento. A prematuridade, praticamente está erradicada, pois os cuidados pré concepção aumentaram. Cuidaram muito tempo do pré-natal e esqueceram de cuidar dos futuros candidatos a pai e mãe. Quando descobriram que esse era o melhor caminho, tudo ficou mais fácil. E, com o tempo, é possível que alcancemos o nível de Marte.

Marte! Aquela visão ocupava boa parte dos meus pensamentos.

- Mas esses bebês... E as cólicas? E as mamadeiras? E dor de ouvido?
- Tudo ainda existe, Bela, só que as mães passaram a aprender a lidar com o problema sem maiores angústias. Tudo o que a mãe sente passa para o bebê. Se a mãe é melhor orientada, pois tal orientação começou na infância, os bebês crescem mais sadios. O instinto retorna cercado de AMOR.

Almoçamos e descansamos um pouco, naquele campo tão bonito; não era tão grande, mas havia uma linda vista e ele terminava no morro. As árvores faziam uma boa sombra e o ambiente era muito confortável.

- Sabe o que eu fazia aqui quando era garoto?
- Não tenho a menor ideia...
- Jogava futebol, aliás, “futelama”, ahahahahahahah!
- Você, jogando futebol? Nunca soube que você era desportista... E futelama???
- Eu era o dono da bola! E o próprio nome já diz: futebol na lama; e eu ficava que nem a sua filha ficou - continuava a rir - e deixava minha avó doida! Eu nunca fui desportista e só joguei alguma coisa na adolescência. Depois que fiquei muito dependente do meu trabalho, sem poder arriscar me contundir, é que parei mesmo com os esportes. No certo, eu teria que fazer alguma atividade física, por causa do desvio na coluna, mas a gente acaba deixando pra lá e depois reclama...
- Isso ainda é um grande problema por aí. É difícil as pessoas não reclamarem de problemas na coluna.
- É que a prática de esportes não era estimulada na minha época. Aqui, começamos com a ginástica dos bebês!
- Isso eu vi aqui com as mães - interrompeu Priti, fingindo que prestava atenção no assunto, mas sem tirar os olhos do garoto que subia numa árvore para pegar frutas.
- As mães também aprendem e temos uma ótima professora!
- E quem é? Iremos conhecê-la?
- Com certeza! [...] ela veio pra cá em 2014, após acabar a faculdade de educação física. [...] e a Rafaela está aqui com a gente e é nossa professora de educação física, conforme te falei.
- Rafaela é o nome dela? E o dom? Como ele surge? Você ficou de me explicar...
- Eu ando parecendo muito um professor... ahhahahahahah; e foi você quem me ensinou muita coisa. Psiu, meninos, também queremos laranjas. Dá pra ser ou está difícil?

Um cesto inteiro apareceu ao nosso lado e começamos a saborear aquelas delícias. Um sono forte começou a me dominar e eu ainda não entendia o que era o Dom. Logo notei que os meninos já estavam deitados em duas mantas próximas da laranjeira e a cabeça da Pri recostava no ombro do menino. Acabei fazendo algo meio parecido e deitei no colo do Gui. Ele acariciou minha cabeça e eu caí no sono. Parecia ter passado uma eternidade, quando ele me chamou.

- Belinha, acorde, hora de ir.

Sid carregava Pri no colo com todo cuidado para não acordá-la. O sol já se punha e dava para vê-lo se escondendo atrás do morro. Subimos na charrete e o seu movimento embalava o sono da minha filha.

- Tão cedo não acorda – disse.
- Ela está muito cansada. É bom que durma, pois hoje teremos uma festa.
- Festa?
- É um casamento. Um casal italiano.
- Onde será?
- Lá na igrejinha, no alto da cidade.


Eu sou doc

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