A Ostra e o Vento

A pandemia me pegou de surpresa em meados de março, quando eu acompanhava meu pai em internação hospitalar no Rio de Janeiro. A rotina era complicada e monótona, e o hospital parecia uma ilha isolada do mundo, pois apesar da cidade ser maravilhosa quase nada era possível apreciar. Um belo dia fui de metrô lotado e voltei sozinho no vagão; num outro dia encontrei um shopping semi abandonado (com o fechamento dos cinemas, a frequência diminuiu muito) com lanchonetes e lojas praticamente vazias. Quando não estava no hospital eu ficava no apartamento da minha sobrinha e também parcialmente isolados do mundo exterior. Ao voltar para o sul do pais, o mundo que eu conhecia definitivamente tinha terminado e era o momento de traçar novas estratégias.
 
Por aqui a situação é muito complicada: mesmo com o tempo de quase três meses entre o final do verão e o inverno (onde os casos de gripe sempre aumentam por aqui), poucas providências foram tomadas. 
 
A região, considerando um raio de uns 120 km e 8 cidades,  possui pouco mais de 20 leitos de UTI para uma população de aproximadamente 250 mil habitantes e esses leitos recebem pacientes de qualquer cidade do estado.  Isto quer dizer que a chance de não haver leito para alguém da região é enorme e o paciente acaba transferido para longe de casa, seguindo instruções do serviço de regulação.  Para se ter uma ideia do problema,  a distância leste-oeste do estado, em linha reta, alcança 543 km e norte-sul 400 km e essas transferências podem cobrir tais distâncias (agora pensa nas curvas da estrada).
 
Essa semana dois idosos faleceram distantes de suas cidades ( de 120 a 190 km) por falta de leitos locais no dia da internação. 
 
Sim, eles tiveram atendimento no pouco de vida que ainda lhes restou e isso ficou resolvido para os (ir)responsáveis; mas como ficaram as famílias longe de seus parentes e com uma provável e absurda e cara dificuldade no translado para os municípios de origem?
 
O que vemos, portanto, são governantes totalmente equivocados e sucumbindo ao apelo político/econômico, liberando atividades em tempo inadequado o que certamente levará a desastres imponderáveis.

Pandemia à parte, o objetivo do texto de hoje é falar um pouco do livro de Moacir C. Lopes, um "romance que deu origem ao filme homônimo de Walter Lima Jr. .
 
"A Ostra e o Vento é uma narrativa em que o poético e o lírico mesclam-se com o sensual para produzir uma pequena obra-prima. Na encantadora história de Marcela e de Saulo, o vento, o mar e a natureza, além de compor uma paisagem real e plena de símbolos, atuam como elementos altamente sensuais. Marcela vivencia o seu desabrochar sexual numa ilha em que a solidão só é afastada pela intransigência repressora do pai, um faroleiro frustrado e autoritário, e a sabedoria impotente de seu auxiliar. Marcela recorre a Saulo, um personagem criado por e para ela, sem corpo físico, mas que a envolve por inteiro, que ama e é amado como nenhum homem. Com a chegada de Saulo na ilha, tudo se transforma." (texto da contra capa da  9ª edição de 2007)

Li o livro e vi o filme. Como sempre o livro é melhor que o filme, pois este ficou muito confuso e monótono. De qualquer forma vale a leitura e por isso coloquei no meu próprio livro. Fiz uma rápida citação no meu blog "Coisas do Narrador", mas falarei dos outros blogs numa outra oportunidade.

Seguindo em frente, mesmo que isolado numa ilha onde o mar está repleto de tubarões e a reclusão compulsória parece mais prudente.


Eu sou doc

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