Visita Inesperada

- Mãe, acorda! A gente tem visita!
- É seu João, Carolina! Peça pra Alcionne servir um café pra ele enquanto eu me visto.
- Não é seu João não! É uma moça muito bonita.
- E você já tomou café e escovou seus dentes?
- Eu já. Mas levanta mãe. Vem ver a moça.
- Tá bom, tá bom! E onde ela está?
- Ué? Lá no jardim... Ela me contou a história das cores do arco-íris..
- Quer dizer que você já foi lá perturbar a moça? E qual o nome dela?
- Ih! Esqueci. É um nome diferente. Mas eu não perturbo não, tá? 
 
Mal tinha amanhecido, pois o galo ainda cantava. Carolina sempre acordava cedo mesmo que dormisse tarde. Uma menina doce, calma, carinhosa e muito esperta, de pele clara e cabelos pretos. Os olhos eram castanhos claro que, às vezes, assumiam um tom esverdeado, mas somente quando ela estava triste. Aprendia fácil tudo que lhe era ensinado e ia bem no colégio 
 
- Bom, se não tem jeito, vamos levantar! E meu beijo de bom dia? 
 
Ela me beijou e saiu pela porta gritando pela Alcionne. 
 
- Mamãe já vem. Mamãe já vem! – repetia 
 
De qualquer maneira achei a história estranha. Marcara com seu João às 10 horas e ainda era muito cedo. Coloquei um macacão de trabalho, pois esperava encontrar bastante lama do lado de fora e fui ver do que se tratava. Olhei da janela e vi uma moça sentada no chão com uma aura prateada a sua volta no meio de uma bruma matinal. Aquele brilho me pareceu familiar e instintivamente coloquei o colar com o cristal. Desci depressa a escada que dava acesso ao jardim e fui me aproximando tentando reconhecer a pessoa à distância. Quando finalmente cheguei meu cristal novamente brilhou e pude ver melhor quem era. 
 
A visão que tive me deixou consternada e quase não acreditei. Era Priti, minha filha, que eu tanto amava. Depois de cinco anos ela voltara. Mas voltara de onde? O que fizera? Como vivera? Mas não era momento para perguntas. Observei-a durante um segundo. A bruma afastou-se e pude ver seus cabelos dourados e levemente cacheados que brilhavam no sol da manhã. Vestia um vestido comprido, de crepe azul claro que contrastava com uma enorme borboleta que voava sobre sua cabeça. 
 
- Priti!!! – Ela se virou e o sol refletiu em seus olhos claros como se fosse uma estrela brilhante. E corri para abraçá-la.
- Que falta senti de você mãe!
- E eu também, meu amor! Mas por que... 
 
Não perguntei mais nada. Abracei-a com força, me sentei no chão e coloquei sua cabeça no meu colo enquanto eu chorava e acariciava seus cabelos. Ficamos assim um bom tempo quando fomos interrompidas finalmente pela Alcionne que vinha em nossa direção: 
 
– O café já tá na mesa, dona Bela! 

(continua)
 

Eu sou doc

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