Discussões

Caminhamos lentamente em direção à copa. Minha cabeça estava cheia de perguntas, mas foi ela que começou:

- Mãe, você veio parar muito longe. Foi difícil te encontrar!
- Foi essa a minha ideia: ninguém me encontrar mesmo.
- E papai? E meu irmão?
- Ficaram na Índia. Eu preferi o exílio nesse fim de mundo.
- Fim de mundo dona Bela? Que isso! Aqui é muito depois... – Alcionne se esbaldava de tanto rir com minha observação
- Ah! Alcionne, não enche, né? 
 
E ela saiu rindo cozinha a dentro e foi ter com Carolina no quintal. 
 
- Alcionne? Quem é a moça?
- Ainda não sei. Mas fique aqui comigo até sua mãe chamar. Ou então fique brincando aí atrás.
 
Ela aceitou a segunda opção. 
 
- Sua ajudante é muito simpática, mãe!
- Eu sei Priti. Ela vive implicando comigo.
- Implicando como?
- Ah! Que eu devia sair mais de casa, arrumar um namorado e coisas assim...
- Mas ela sabe que você é casada?
- Não sou mais casada!
- Nossa, mãe, que raiva! 
 
Realmente quase gritei com ela. Acho que eu tinha uma mistura de saudade e de vontade de torcer o pescoço de Priti. 
 
- Deixe quieto! Isso não é assunto para agora. Quero saber de você.
- Saber o que?
- Tudo.
- Mas vale a pena tocar nessas mágoas? O que vamos ganhar com isso?
- Explicações.
- E mais angústias! – agora era Priti que elevava a voz.
- Não fale assim com sua mãe! Isso não são modos e eu não te eduquei assim!
- Desculpe, mãe. Eu estou muito cansada da viagem e queria dormir um pouco. Foi uma noite muito difícil. 
 
Pensei em não deixar. Queria saber onde ela estivera, o que fez durante o tempo em que passou longe. Mas isso ia gerar nova discussão e preferi chamar Alcionne para que ela preparasse um quarto para Priti e que me dissesse onde estava Carolina. 
 
- Ih! Dona Bela! A menina Carolina tá lá nos fundos brincando e o quarto eu já preparei faz tempo. Ela fica com o quarto do meio, em frente ao da menina, que é mais silencioso. 
 
Silencioso? – pensei – mas aqui não havia barulho nenhum! O único ruído maior que havia era quando Alcionne alimentava as galinhas e elas cacarejavam sem parar. 
 
(continua) 


Eu sou doc

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