Capítulo 22 - Epílogo

- Você está querendo me dizer que eles fugiram? Eu conheço a história de Sidarta. Quando ele abandona tudo, ele parte sozinho. Então ele não levaria ninguém.
- Se ele fosse uma reencarnação. Mas o Sidarta original foi a última encarnação do Buda, segundo os antigos escritos.
- Mas essa teoria toda é uma loucura. Como Elle poderia saber disso tudo?
- Ela era diferente das outras pessoas. Independente disso, os dois sumiram e isso é muito significativo. Sid é esperto e foi criado para ser um líder. Era isso que sua mãe queria.
- E vai liderar o que, com 15 anos? Aonde ele iria?
- Para lugar nenhum. Já mandei verificar as saídas e ele não passou. Nenhum carro sumiu e nenhum voo saiu. A não ser que...
- A não ser o que?
- Pensei que fosse um raio!
- Que raio?

Na noite anterior eu dormi direto, exausta e não vi nada, nem chuva. Só as nuvens negras se aproximando e os relâmpagos contrastando com os fogos de artifício.

- Lembra-se do que te contei sobre os meninos de rua de Marte?
- Ah! Aquilo foi uma brincadeira sua. Alta tecnologia de um parque de diversões.
- Temo que não tenha sido brincadeira.
- Você quer dizer que aquilo tudo é real? A colônia de Marte existe?
- Começou com o desaparecimento da sonda Mars Polar, em 1999. A partir dela é que a Terra pareceu interessante aos habitantes de Marte, até que eles mandaram nos sondar também.
- Seres de outros planetas, fantasmas? Ah! Você não quer que eu acredite nisso! Minha filha sumida e você me vem falar dessas coisas...
- E eu não disse que faltava muita coisa lá em Marte?
- Disse, mas...
- Faltava o líder. Aquelas crianças precisam de um líder. Sid está lá.
- Com a Priti, a minha Priti? Mas ela não iria sem me dizer!
- Mas ela tentou. A pergunta que chegou da outra vez em que vocês estiveram aqui, foi dela.
- Que pergunta?

Minha cabeça rodava. Aquilo tudo era completamente improvável e inacreditável. Priti jamais me esconderia alguma coisa. Mas o que estava escrito naquele papel que Guido me mostrara era muito significativo.

- Ela tentou te dizer, mas não conseguiu!

Ela queria me dizer, mas não sabia como? E mandou a pergunta para o Gui? Isso era uma fantasia, um pesadelo.

- E o que você respondeu para aquela garota?
- Protelei e não respondi.
- A culpa então é toda sua. Você tinha que dizer para ela conversar com a mãe. Isso era o certo. Essa era a resposta. Você errou!

E parti para cima dele batendo em seu peito, descarregando toda a minha raiva. Ele me segurou com força e disse com tom firme:

- Pare com isso! Pare com isso, que não leva a nada. Vamos confirmar as nossas suspeitas.
- As suas suspeitas.

Ignorando meu comentário e com a testa franzida, ele me puxou para fora da casa e corremos em direção ao chalé onde se localizava a aparelhagem de acesso a Marte. Lá chegamos e a atmosfera nos influenciou a manter a calma. E lá estavam eles, Priti e Sid brincando, e pareciam felizes. Tentei chamá-los. Tentei tocar em minha filha, mas ela não ouvia.

- É impossível falar com eles. O aparelho só permite a nossa visão dos acontecimentos. Eles não podem nos ver. Vamos embora.
- Embora, assim?? E minha filha?? Filha vem comigo, vem com a mamãe!
- Ficará bem, vamos - Guido me puxava em direção ao portal e eu esperneava. Ao entrar acabei perdendo os sentidos.

Tudo passava na minha cabeça em flashback!

“Viu Bela, seu pai deixou. Mas agora ficará por sua conta. Me mande um e-mail amanhã contando o que seu pai disse...” “Você não acha que está indo longe demais com esta história? Essa sua relação é muito estranha! Essa sua amizade com ele tornou-se excessiva e tudo que é excessivo não é bom! E você sabe disso! Não queira que este cara venha para cá!” “O que faremos agora?” “Acho que teremos que deixar para outra vez”. “Venha no meu baile de debutante e traga a família”. “Você é demais. No dia que você sonhou que eu chorava, eu estava chorando mesmo” “ Você vai voltar com a gente para o Brasil de qualquer maneira!” “Filha, vem comigo, vem comigo. Vem com a mamãe” “A próxima chance será em futuro distante”.

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- Filha, acorde! Vem comigo provar o seu vestido de formatura. A costureira terminou os últimos detalhes. E você ainda tem que fazer o cabelo.
- Hein? Ahn? Mãe?
- E quem você achava que fosse? Parece que teve um pesadelo. Está toda suada. Vá tomar um banho e se vestir. Lave o rosto, que seus olhos estão até vermelhos. Você estava chorando? E o que seu amigo te mandou? Você nem mostrou, como das outras vezes. Pena que ele não poderá vir. Vida de médico é a maior trabalheira mesmo. Seria super legal a gente conhecê-lo. Parece ser uma pessoa muito boa.

Acordei e lá estava eu: a adolescente de 14 anos no dia da formatura de oitava série. Meu quarto, minha mãe me chamando e um forte cheiro de café marcava o início da manhã. Eu vestida com a minha camisola rosa, que é a cor que eu mais gosto. Sem marido, sem filhos e no Brasil.

Na minha mão cerrada, um objeto como uma moeda e um bilhete em cima da mesinha de cabeceira:

“Oi Bela!

Dessa vez eu não pude ir, mas não faltará oportunidade. Mando os disquetes com a cópia de todos os nosso e-mails e um presentinho para você. Espero que goste.

Guido”


Já refeita, descobri que continuava em 1999 e tudo não passara de um sonho. Mas ainda havia algo - o objeto na minha mão - o que seria? Hesitei, mas abri os dedos, bem devagar... quando se revelou a surpresa: O presente era um Murano de fundo verde cor de água. Quase caí dura para trás. Foi mesmo tudo um sonho???
 
FIM
 

Eu sou doc


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