A História da Fuga

Priti, então, começou a falar.

- Naquela noite quando voltamos pra casa, fui logo me deitar e Sid falou que ia dar uma olhada no CD que sua mãe deixara. Sempre nas ocasiões especiais um arquivo se abria e ele quis logo dar uma olhada. A Fê já dormia e eu entrei em silêncio. Mais ou menos uma hora depois eu ouvi um barulho e fui ver do que se tratava. E Sid estava lá, olhando para o céu, como se esperasse alguma coisa acontecer.

- Aí você vai me contar que um disco voador apareceu e levou vocês dois pra Marte...
- De onde você tirou essa idéia de que fui pra Marte?
- Guido me mostrou vocês naquele portal que a gente acessava pelo armário do chalé.
- Ah! Aquilo? E você acreditou? Ah! Mãe, aquilo nunca existiu. Era uma brincadeira do Guido. Realmente era um parque de diversões. Imagens holográficas quase perfeitas.
- Sempre achei que ele era maluco. Mas porque ele quis me convencer de que vocês estavam em Marte?
- Sei lá! Talvez ele não tivesse outra explicação e quisesse te acalmar.
- E porque você me deixou? Por que fugiu?
- Eu não fugi. A “mágica” foi outra.
- Mágica?
- Um pouco de tecnologia avançada. Para ter contato e acesso ao mundo, Guido associou-se a um grupo de tecnologia avançada que estava criando um método revolucionário de transporte através de portais. Era o que fazia o nosso café da manhã sair de dentro dos armários, lembra? Do nada aparecia toda nossa refeição.
- Realmente era muito interessante.
- E experimental. Mas havia um outro experimento bem maior cujo teste seria feito na madrugada, pouco antes do amanhecer. Algum objeto surgiria do nada no quintal da casa do Guido e Sid estava encarregado de recebê-lo.
- Deixar uma criança receber um objeto só poderia ser idéia daquele irresponsável. – eu começava a deixar minha fúria vir a tona.
- Calma, mãe. Sid foi bem treinado e era só apanhar o objeto. E não acredito que você guarde mágoa do seu mais profundo amigo. Pelo menos eu sempre achei que isso seria impossível.
- É mas as pessoas mudam. Mas o que aconteceu então?
- Bom, eu fui me aproximando e quando cheguei a uns cinco metros de Sid eu o chamei e ele soltou um grito. Nesse momento ele pulou em cima de mim, me empurrou e uma luz materializou-se justo em cima dele. Ele desmaiou e a luz foi progressivamente diminuindo e eu fui notando que ele estava desaparecendo. Corri na sua direção, agarrei firme na sua mão e quando acordei eu estava sozinha em outro lugar. O experimento funcionou de forma diferente do que se imaginava. O objeto deveria cair no chão e ninguém esperava que fosse cair em cima de uma pessoa.
- Você quer que eu acredite que você foi teletransportada para outro lugar? Vocês fugiram e me deixaram sozinha. Porque você não conta a verdade em vez de inventar uma história de fantasia? Se tudo isso existisse há cinco anos hoje todos já conheceriam o método. E porque Guido não me contou?
- Nem ele sabia. Talvez tenha descoberto depois, mas aí você já teria ido embora. E nós não conseguiríamos fugir porque a polícia nos acharia. Tanto você quanto meu pai não iam deixar isso tudo barato e iam nos procurar. E vocês, certamente, não acharam nada.
- Prefiro nem lembrar tudo o que passei. Mas agora você voltou. Você sempre foi minha maior paixão!

E me levantei em direção à minha filha e a abracei como se ela fosse um bebê e desabei num pranto profundo. Ficamos assim alguns momentos.

- Oh! Mãe! Eu preciso muito de você.
- E eu de você Priti.
- Dona Bela.. xiii... daqui a pouco eu volto! – dessa vez Alcionne não interrompeu.

(continua)
 
Eu sou doc

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