Superlotação

Os meses passaram e o inverno chegou. Aí não deu outra: o hospital de referência local passou a receber pacientes de todas as regiões do universo e vivia lotado. O quanto de pacientes eles conseguiram salvar foi um dado não informado, mas a grande maioria eram de outras regiões.

Considerei, então, que era o momento de tirar a licença prêmio e que o início seria em outubro, quando os leitos "sumiriam" de vez por conta de superlotação. Acertei na previsão, mas aconteceu uma situação totalmente fora do esperado: os leito "sumiram", mas foi por falta de pacientes e foram descredenciados pelo Ministério da Saúde.

Por incrível que pareça, a ilusão de que a pandemia estava controlada associada à  má gestão pública levou o Ministério a acreditar que não precisava mais dos recursos alocados e dispensou tudo.

Considerando essa informação, a ilusão também atingiu as pessoas (já exaustas do afastamento social e do trabalho) e essas passaram a participar de um maior número de atividades (liberadas ou não); vieram feriados, as praias encheram e aí os casos aumentaram novamente (lógico). Só que, aí, onde foram parar os leitos? Foram descredenciados e usados para outras coisas. 🙈🙈

Para entender um pouco o funcionamento dos órgãos públicos, vou contar uma  historinha paralela. Lá no passado, eu trabalhei num hospital onde havia um serviço de neurocirurgia que não funcionava por falta de médicos e equipamentos. Aí o diretor mandou um ofício para a Secretaria de Estado de Saúde pedindo profissionais e equipamentos. A resposta foi educada: "Claro, Sr. Diretor. Pedimos que o senhor envie a estatística de atendimentos para que possamos analisar a necessidade." O Diretor respondeu: "Informamos que não possuímos nem médicos e nem equipamentos suficientes para criar uma estatística de atendimentos." E a resposta: "Perfeito, Sr. Diretor. Assim que o senhor tiver uma estatística o senhor envia e nós liberamos os médicos e equipamentos que forem necessários para o aumento do número de atendimentos." (gostaram do desenho?) 

Apesar do nítido aumento de casos, os gestores seguiam uma matriz de gravidade com um vício de funcionamento, pois a análise tinha pelo menos 14 dias de defasagem. Com isso a realidade não aparecia em tempo próximo do real e aconteciam novas flexibilizações, com abertura de cinemas, eventos e a tão temida volta às aulas (essa última demorou mais um pouquinho, hoje em dia já foi liberada totalmente e algumas cidades já notaram o desastre que isso está causando).

No meio dessa bagunça, concluí que era a hora de "dar no pé".

Eu sou doc

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