Histórias da Pandemia

A partir de hoje e durante algumas semanas vou falar sobre a pandemia. Mesmo com muitas dúvidas e ainda muitos casos e óbitos, a vacinação trouxe esperança e alento às pessoas. De qualquer forma vale a pena lembrar do passado recente quando a situação era bem mais complicada. 

Vou explicar como tive essa ideia: em outubro do ano passado eu entrei de licença (noutro texto eu explico melhor isso) e já estava adiantando as postagens do blog, pois era uma coisa mais estática e atemporal. Como foi visto, eu falei dos meus livros e depois dos blogs. Explorei os marcadores/temas do "Coisas do Narrador" tentando associar com as datas mais comuns onde os textos foram publicados. Aí encontrei um hiato, pois os próximos temas seriam "Dia das Bruxas" e "Coisas de Natal e Ano Novo" e achei que falar disso em agosto não teria a menor graça. Dessa forma, resolvi "inventar" alguma coisa mais contemporânea, mesmo que não seja. 

A primeira vez que contei algo sobre a pandemia foi no texto "A Ostra e o Vento", onde dei um panorama da situação mas não contei toda a história. Para relembrar, eu estava no Rio acompanhando meu pai em internação hospitalar junto com meu irmão quando a coisa explodiu.

Bom... além da sensação "apocalipse zumbi", com os hotéis sendo desativados, e aeroportos muito vazios (conseguir o voo de volta foi uma saga), ainda houve a problemática do "como sair de Curitiba para chegar ao Planalto Norte", já que os ônibus também foram impedidos de circular da forma interestadual. A opção óbvia era alguém ir me buscar, mas isso não rolou (todos com medo e não surgiu ninguém com espirito cristão de ajudar ao próximo). Moral da história: tive que alugar um carro (mas peguei uma promoção de aluguel mensal muito boa) e esperar meu cunhado voltar de viagem para podermos devolver o carro em Curitiba.

Ao chegar, compareci ao posto de saúde próximo e ganhei uma licença de 14 dias (eu vim de área de risco e coisa e tal) que foi somada à licença para acompanhar o papai, que estava doente, e o hospital ainda me ofereceu férias (pelo visto ninguém queria saber de alguém que vinha do Rio de Janeiro, onde o número de casos era maior).

Quarenta e cinco dias depois da volta, retornei ao trabalho, mas somente num vínculo porque o outro não quis me pagar e os detalhes mórbidos eu vou deixar para a imaginação do leitor. Já deu para entender que a confusão foi geral. 

Quando recomecei eu estranhei muito. Explico: trabalho numa maternidade, na UTI Neonatal, e o contato com o vírus seria indireto, pois os recém nascidos não são normalmente acometidos, as gestantes foram isoladas (em tese) e o risco seria muito menor. O que ninguém entendeu é que os próprios profissionais de saúde poderiam ser portadores sadios e, num plantão, transmitir para os demais colegas sem querer. Sem contar que durante 24 horas você usa o banheiro do vestiário coletivo, escova dentes, frequenta refeitório e fica impossível garantir que você não se contamine. É só pensar em infecção hospitalar que a explicação vem na hora; ou pensar nas escolas, que nem piolho conseguem controlar. Acho que não preciso desenhar.

De qualquer maneira, naquela fase, ainda não havia uma quantidade absurda de casos, pois o inverno não estava francamente instalado. Eu tinha um trunfo a mais que era uma licença (prêmio) de três meses e que realmente utilizei, como contei no início, com um bônus de um mês de férias em janeiro, e tirei no momento que entendi que seria impossível permanecer no Planalto Norte pelo risco de não haver atendimento médico adequado em caso de necessidade.

Bom, nas próximas semanas eu sigo com o assunto. Agora o marcador é exclusivo deste blog e se chama "Histórias da Pandemia".


Eu sou doc

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